Espanhol é a língua mais doce, mais linda, mais terna do mundo. Amiga da minha mãe ligou lá da Costa Rica para conversar e me pergunta como vai meu perrito. Que coisa doce, meu Deus, perrito. Não tenho mais com quem falar espanhol, então vejo filmes mexicanos e argentinos e falo sozinha, pergunto, respondo, procuro no dicionário o que o afeto não abandonou, mas a cabeça esqueceu.
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pra ler curtindo:

Gente velha apaixonada visita o cardiologista achando que vai morrer semana-que-vem porque o peito dói, porque respira suspirando, porque tem palpitações e fala no telefone de olhos fechados e experimentando uma zonzerinha. A cardiologista, um bebê, ri e receita que a velhinha ligue para o incauto e peça prele largar tudo e vir embora. Se não der certo, o bebê-johnson recomenda uma temporada na praia. Sim, cardiologistas, hoje em dia, olham seus exames e recomendam dieta, caminhadas e uma bela duma DR.
– E se a amizade acabar, doutora? “E se”, não, vai acabar.
– Bom, cinquenta por cento de chance de dar errado, mas se der errado, fica fria. Para que ser amiga de um homem tão burro a ponto de não querer você?
História verídica. Aconteceu com uma amiga minha.
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Bichos que voam e meu cabelo. Atração que nunca tem fim. Que horror, que horror, que horror.
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Tentando achar a graça nessa série Vikings de vocês. Tem o Byrne, vá lá, mas né, por instantes. E só. O imperador das Laranjeiras acaba de jurar que a série melhora e eu acredito, porque, né.
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Minha pureza e meu comprometimento com a vida hippie estão de tal ordem que tenho tomado suco de maçã com caju e suco de pêssego com maçã. Sim, resolvi colocar a centrífuga em uso. Sim, vou para o céu. Sim.
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Perdi a mão para fazer bolo, senhores. Se antes eu já não era um partido sequer a ser considerado, agora, puff, não sirvo nem para dama de companhia. Não sei mais fazer bolo, constato atemorizada. Como é que vocês leem uma colunista de site de comidinha que esqueceu como fazer bolo, pergunto eu. Aliás, como é que o chef Orlando e a Carol têm coragem de me manter no Oba!? Saiam daqui, saiam daqui enquanto é tempo. Não aceitem meus conselhos sobre comida (e nem sobre coisa alguma, já que falamos nisso), não leiam minhas opiniões sobre panos de prato e imãs de facas: não sei mais fazer bolo, vocês não podem confiar em mim dentro de uma cozinha (e nem em lugar algum, já que falamos nisso). Não sei mais fazer bolo. Um craquelou, o outro ficou quase um pudim (e com um gosto nojento de fermento), o outro não ficou lá muito católico, o outro ficou tão horroroso que eu sentei na escada e chorei. Para quem você liga quando quatro bolos consecutivos não dão certo? Não sei. Então eu chorei sozinha. Quero dizer, com Baco, que mesmo ceguinho e surdinho consegue me encontrar na escada, esfregar o nariz molhado em mim e respirar daquele jeito sofrido que ele respira agora. Pedi receita de bolo simples e salvadora para a Telinha, pretendo fazer ainda essa semana (jurei prela que faria na semana passada, mas quedê que eu fiz?). Vamos se se reencontro o caminho da salvação.
Mas e daí que você não sabe mais fazer bolo, esse é o século XXI, você trabalha, é uma mulher independente e moderna (pausa para o Universo gargalhar), dane-se se você não sabe fazer bolo, isso não importa – alguém dirá. Para mim importa, cara. Eu gostava de saber que eu sabia fazer bolo.
Humilhada e me sentindo um lixo, comprei um bolo de banana na padaria. Que estava delicioso. Porque a pessoa que trabalha na padaria sabe fazer bolo. Eu não sei. Já que falamos nisso.
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Livro com as cartas do Calvino. Se você não leu, corre, a vida acaba já já e você não deve morrer sem isso. Uma editora bonita e limpinha deveria me dar para traduzir. Yours truly ia fazer bonito. Uma editora feia e suja também podia me querer pra fazer esse livro, aliás.
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Se alguém precisa jogar no Google “que dia é hoje?” para saber, ora, que dia é hoje, quero abraçar esse cara, chamá-lo de meu irmão.
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Tenho tentado, do fundo do coração, ser uma pessoa melhor. Fazer uma coisa de cada vez (Very budist of you, disse uma amiga cheia de graça). Tenho respirado fundo, dito a mim mesma que nada é para já, e que tudo, Chico, não só o amor, pode esperar em silêncio. Tenho tentado fazer menos ruído, rir baixinho, gesticular menos, fazer menos bagunça, espirrar menos água, espalhar menos tralhas, acender menos luzes, sujar menos louça, esperar-planejar-projetar-conjecturar menos (bem menos). Tudo menos. Aos quarenta e seis do segundo tempo, tomei uma overdose de mim que não está sendo fácil superar.
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Estou economizando o último livro da Houston que me caiu nas mãos. Ela é a minha escritora mais do que adorada, e cada livro dela que acaba (e são tão pouquinhos), morro um pedaço.
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Acabei o T.M.A.S. Acabei. Agora ele descansa uma semana e depois vai pras mãos do Zander. Vamos em frente. Agora vou acabar o Como ensinar…
Depois, M.O.M.Q.N.S.D.
Um de cada vez, três até o fim do ano.
Depois a gente inventa alguma coisa.
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Fevereiro acabou, março é uma realidade em nossa vida e você, meu amigo de fé, sabe o que isso significa: torrada de panetone.

Carolina Figueiredo

Sócia do Oba Gastronomia desde que veio aqui procurar informações sobre um restaurante da cidade e virou amiga do Orlando Baumel. Sou mãe, webdesigner e divagante, amo boa música, bons pratos e uma boa risada.

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